O Som ao Redor: Visão de mundo e técnica de roteiro (1)

O Som ao Redor: Visão de mundo e técnica de roteiro (1)

Todo o conteúdo deste artigo tem origem em entrevistas que Kleber Mendonça Filho concedeu para fontes como a Revista Cinética, Lili Schwarcz, o canal Metrópolis, e o canal no YouTube Projeto Paradiso. Este é o primeiro de três artigos, onde abordaremos a visão de mundo e a técnica de roteiro em O Som ao Redor.

Introdução à Visão de Mundo de Kleber Mendonça Filho

O Som ao Redor é um filme profundamente enraizado na percepção pessoal e social de seu diretor, Kleber Mendonça Filho. A obra reflete a complexidade do Recife, uma cidade vibrante e cheia de contradições, onde o tradicional e o moderno convivem, nem sempre harmoniosamente. O filme transcende uma simples narrativa, apresentando-se como uma janela para o microcosmo social e cultural de uma cidade em constante transformação.

Kleber Mendonça Filho, através de suas entrevistas, revela que seu processo criativo é fortemente influenciado por suas experiências pessoais e observações sociais. Ele descreve O Som ao Redor como um filme sobre um “certo estado de espírito”, que se manifesta na tensão entre o espaço público e privado, e na relação de poder entre diferentes classes sociais. Essa visão é uma crítica ao modo como a arquitetura urbana reflete e reforça as desigualdades sociais.

Contexto Social e Cultural de Recife

Recife, com sua rica tapeçaria cultural e histórica, serve como pano de fundo para O Som ao Redor. A cidade é apresentada não apenas como um cenário, mas como um personagem vivo, que influencia e é influenciado pelos eventos que ocorrem. A urbanização desenfreada, os condomínios fechados e os muros altos são símbolos de uma sociedade que busca proteção a qualquer custo, muitas vezes à custa da segregação social. Kleber observa que a arquitetura do Recife é um reflexo brutalista de uma sociedade que ainda luta com as heranças do passado.

Em entrevistas, Kleber menciona que sua inspiração vem da observação direta das dinâmicas sociais ao seu redor, além de experiências pessoais vividas em seu bairro. Ele utiliza esses elementos para criar uma narrativa que questiona o status quo e convida o espectador a refletir sobre as tensões cotidianas.

Influências Pessoais e Observações Sociais no Filme

Kleber Mendonça Filho traz para O Som ao Redor uma série de influências pessoais que enriquecem a narrativa. Ele cresceu em Recife e testemunhou em primeira mão as mudanças sociais e culturais que moldaram a cidade. Essa perspectiva privilegiada permite que ele apresente uma visão autêntica e crítica da vida urbana no Brasil.

Um elemento crucial em seu trabalho é a capacidade de capturar a essência das interações sociais através de uma lente observacional. Ele descreve como pequenos detalhes do cotidiano podem revelar verdades universais sobre a condição humana. Essa habilidade de tecer observações sociais sutis em uma narrativa cinematográfica torna O Som ao Redor uma obra rica e multi-layered, desafiando o espectador a olhar além da superfície.

Tema e Subtexto

O Som ao Redor explora temas universais, como poder, medo e convivência, mas o faz através de um subtexto profundamente enraizado nas realidades brasileiras. A relação entre arquitetura e sociedade é uma linha temática central no filme. Kleber usa a estrutura física da cidade como metáfora para as barreiras sociais e psicológicas que seus personagens enfrentam. Os muros não são apenas concretos; eles são símbolos das divisões sociais que persistem.

O filme também aborda o tema da vigilância, tanto literal quanto figurativa. A presença de seguranças particulares nas ruas de Recife serve como um lembrete constante das disparidades sociais e do medo que permeia a convivência urbana. Kleber Mendonça Filho, em suas declarações, frequentemente nota como a vigilância se torna uma metáfora para as tensões sociais latentes na cidade.

Em suma, O Som ao Redor oferece uma análise perspicaz e crítica de uma sociedade em transição, capturando as nuances da vida urbana brasileira com precisão e empatia. Este artigo abordou a visão conceitual por trás do filme, destacando a importância do contexto social e cultural de Recife e as influências pessoais de Kleber Mendonça Filho. Na parte 2, abordaremos Estrutura, Personagens e Diálogos. Fiquem ligados e compartilhem suas opiniões nos comentários! Compartilhe este artigo com outros estudantes de roteiro e cinéfilos para continuar a discussão.

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